Caracterizada principalmente por seus sintomas motores e cognitivos, a fisiopatologia da Doença de Parkinson é associada diretamente à disfunção dos sistemas neurotransmissores, principalmente por uma redução nas concentrações de dopamina no estriado cerebral, em decorrência da perda progressiva dos neurônios que a produz (neurônios dopaminérgicos), localizados em uma região compacta da substancia negra cerebral.
Os mecanismos fisiopatológicos precisos que levam à essa neuro degeneração ainda não são completamente compreendidos, mas envolvem uma cascata de eventos que resulta de interações entre fatores genéticos e anormalidades de processamento de proteínas, estresse oxidativo, disfunção mitocondrial, inflamação, regulação imune e outros fatores ainda desconhecidos. Não há consenso sobre os critérios patológicos definidores da Doença de Parkinson, mas a maioria dos especialistas acredita que os Corpúsculos de Lewy constituem o principal marco patológico da condição.
Mas podemos citar alguns referenciais estudados até o momento:
A origem neuroquímica da DP, foi elucidada na década de 60 por Hornykiewicz, que demonstrou que o conteúdo de dopamina (DA) da substância negra parte compacta (SNpc) e do núcleo caudado/putâmen (também conhecido como estriado) em encéfalos post-mortem de pacientes com a DP, era muito baixo, e estava associado à redução do número de neurônios dopaminérgicos (MEREDITH et. al., 2008).
Posteriormente, também foi documento que a DP estava relacionada a perda seletiva de neurônios dopaminérgicos de todos os núcleos da base (núcleo caudado/putâmen, lobo pálido, núcleo subtalâmico e substância negra parte compacta) e presença de agregados proteicos intraneuronais conhecidos como corpúsculos de Lewy. Em estados avançados a degeneração pode prejudicar também a integridade funcional do córtex pré-frontal (SELVARAJ et. al., 2012).
Histopatologicamente a DP é caracterizada pela degeneração de neurônios pigmentados dopaminérgicos da Substância Negra parte compacta (SNpc) e consequente redução dos níveis de dopamina no estriado (núcleo caudado e putâmen). Também são observadas inclusões intracitoplasmáticas denominadas Corpos de Lewy, compostos principalmente por α-sinucleína e ubiquitina nos neurônios remanescentes. No entanto, estudos imunohistoquímicos têm demonstrado que os Corpos de Lewy contêm mais de
90 moléculas (MILLER; O’CALLAGHAN, 2015).
Outra característica neuropatológica observada em pacientes da DP é a presença de corpúsculos de Lewy em diversas regiões mesencefálicas. Esses corpúsculos tratam-se de agregados proteicos arredondados de proteínas neurofilamentares como α-sinucleína (de forma mais expressiva), ubiquitina, sinfilina-1 e proteínas proteossomais, que se distribuem perinuclearmente de forma difusa nos neurônios remanescentes da SNPc, córtex cerebral e núcleos monoaminérgicos do tronco encefálico (ELBAZ; TRANCHANT,2007; CICCHETTI et. al., 2009).
A fisiopatologia da DP está associada à disfunção dos sistemas neurotransmissores, principalmente, por uma redução nas concentrações de dopamina no estriado em decorrência da perda progressiva dos neurônios dopaminérgicos da parte compacta da substância negra (BURCH; SHEERIN, 2005).
Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que outras regiões cerebrais, tais como área tegumentar ventral (VTA- ventral tegumentar área), locus ceruleus e núcleos da rafe, também estão comprometidas em pacientes com DP. Todos estes núcleos também degeneram e apresentam corpos de Lewy, sugerindo um processo patogênico similar ao que ocorre na SNpc. Portanto, outros sistemas de neurotransmissão tais como o noradrenérgico e serotoninérgico também estão envolvidos na fisiopatologia da DP e tem sido relacionado aos sintomas não-motores da DP (DEXTER; JENNER, 2013; OBESO et.al., 2010).
Na DP o estresse oxidativo também desempenha um papel importante na degeneração de neurônios dopaminérgicos na DP, interrupções na manutenção fisiológica do potencial redox nos neurônios interferem em vários processos biológicos, levando à morte celular (DIAS et. al., 2013). É definido como a situação na qual a formação de espécies reativas (de oxigênio, nitrogênio etc.) excede a capacidade de defesa antioxidante e de reparo da célula, tendo como consequência o aumento de danos a biomoléculas (DNA, lipídios, Movimento Humano, Saúde e Desempenho 2 Capítulo 1 5 proteínas). Estes danos, quando não reparados, acabam comprometendo o funcionamento da célula levando-a a morte por apoptose precoce ou necrose (BARBOSA et. al., 2006).
Avanços recentes revelam o envolvimento direto de processos inflamatórios e oxidativos da SNpc na DP. A patogênese da DP envolvia especificamente degeneração neuronal dopaminérgica grave na SNpc e estriado. A morte celular neuronal dopaminérgica é devida à cascata inflamatória, incluindo ativação microglial e secreção excessiva de agentes citotóxicos, como citocinas pró-inflamatórias e radicais livres. Assim, considerando a importância da inflamação na progressão da DP, estratégias neuroprotetoras e
antiinflamatórias podem oferecer uma intervenção terapêutica promissora para o tratamento e manejo da DP (MANDAL et. al., 2017).
Referências completas:
SAMUEL MIRANDA MATTOS (Belo Horizonte -Mg) (ed.). Movimento humano, saúde e desempenho. 2. ed. Belo Horizonte: Atena, 2020. 199 p. Disponível em: https://www.atenaeditora.com.br/post-artigo/39935. Acesso em: 23 maio 2022.
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